Um apartamento de alto padrão, localizado em uma das áreas mais valorizadas de João Pessoa, foi vendido por apenas R$ 125 mil para uma empresa ligada à família do presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos–PB). O imóvel, avaliado entre R$ 3,8 milhões e R$ 5 milhões, teve a transação registrada em janeiro de 2025, semanas antes de Motta assumir a presidência da Casa.
A denúncia foi publicada por Natália Portinari, do portal UOL, com base em documentos oficiais e registros imobiliários. A diferença entre o valor declarado e o valor real de mercado levanta sérios indícios de irregularidade e chamou a atenção de especialistas em direito e finanças públicas.
A compra foi feita pela empresa Medeiros & Medeiros Ltda, cujo quadro societário inclui a esposa e os filhos do deputado. A vendedora foi a Construtora Massai, uma das maiores da Paraíba. Questionada, a empresa afirmou ter recebido o valor por uma fração do terreno, e não pelo apartamento. A justificativa, no entanto, não se sustenta, já que a transação ocorreu após a conclusão do prédio, inaugurado em 2023.
Pior: menos de um ano antes, em fevereiro de 2024, o mesmo imóvel havia sido comprado pela construtora por R$ 1,7 milhão. Hoje, unidades no mesmo edifício chegam a ser anunciadas por até R$ 7,5 milhões.
Para o professor Thiago Bottino, da FGV, a prática é indício clássico de ocultação de valor real. “Declarar valor abaixo do mercado pode configurar tentativa de lavagem de dinheiro. O imposto pago sobre o valor venal, e não sobre o valor declarado, reforça essa suspeita”, explicou ao UOL.
Vitor Schirato, professor da USP, também apontou que transações dessa natureza devem ser comunicadas ao Coaf, por envolverem risco de sonegação, enriquecimento ilícito e ocultação patrimonial.
O imóvel e o padrão de luxo
O apartamento em questão integra um condomínio de alto padrão, com 40 unidades, uma por andar, cada uma com mais de 400 m², vista para o mar, quatro suítes, sala com pé direito duplo, piscina aquecida, academia, sauna, quadra de esportes e rooftop panorâmico.
Não é a primeira movimentação imobiliária de vulto envolvendo a família de Hugo Motta. Desde 2022, a mesma empresa comprou cerca de R$ 5,8 milhões em imóveis, incluindo um terreno no Lago Sul, em Brasília, onde está sendo construída uma mansão da família.
Além disso, uma fazenda da empresa no interior da Paraíba tem como caseiro um homem que consta como assessor parlamentar no gabinete do deputado, recebendo salário de R$ 7,2 mil mensais da Câmara dos Deputados. Outros nomes ligados ao deputado também figuram na folha de pagamento do Legislativo com funções alheias ao cargo.
Silêncio e falta de explicações
A reportagem do UOL afirmou ter procurado Hugo Motta diversas vezes, por telefone, mensagem e por meio da assessoria de imprensa. Até a publicação, não houve resposta. O espaço segue aberto para manifestação.
Enquanto isso, a operação segue sob olhar atento de analistas, juristas e órgãos de controle, diante de um caso que mistura poder político, patrimônio incompatível e silêncio constrangedor.
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